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Essa Maria José dos Santos

  • Foto do escritor: Valter Rogério
    Valter Rogério
  • 24 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura

Essa Maria José dos Santos

Essa Maria José dos Santos

vem cuidar de seu preto branco

fazer café de beber , pão de mel comer

Cocada, doce de mamão e Abóbora

Pé-de-moleque, ambrósia dos deuses

e deixar os monstros da noite taciturna

afastar-se de seu branquinho atinado e travesso

todo queimado de soda, com seus dentes carcomido pretos

que conheceu a dor antes do sofrimento.

Há de deixa-lo dormir quietinho no mundo,

com seu anjo torto feito em cheiro e paz de formicida.

Minha mãe Índia negra cafuza mameluco

Alagoana desde criança libertina quando foi viver em casa

ainda menina jovem mulher em vida afetiva;

Que não conheceu Maragogi Praia do Francês e arribação,

mas foi tudo de bom e o melhor em minha vida:

coisas concisas e Grandes Veredas do sertão.

Essa Maria José dos Santos

ensinou-me a pescar nas lagoas do Mato Grosso

rios corregos e riachos do serrado em vão

fugir das cobras peçonhentas perigosas;

botar galinha para chocar pintinhos garnisé

limpar matar e comer frango caipira com polenta gostosa

que foi ensinada a fazer por mamãe e meu avô Italiano

homem de Deus de olhos azuis e celestiais

que veio de Verona e minha avó de Veneza

aportando aqui como imigrante no porto de Santos

cheio de coragem valentia e suores de trabalho mais valia.

Essa Maria José dos Santos

chamava-me para arrumar cozinha com ela

enxugava e guardava as louças de toda cozinha

e nos finais de semana aos sábados em contragolpes

convidava eu e meus irmãos em ensinamento

para passar cera vermelha na casa inteira

e depois do calor de atinar o tempo;

passavamos o escovão pesado abrilhantando todo o chão.

Quando eu fazia traquinagens absurdas

como cortar os pelos da boca do gato

brincar de acender fogo no porão de casa

Guerra de travesseiro penas para todo lado ,

cueca suja e toda roupa de criança fedida

Amarrar fita no rabo do cachorro

Caçar pombinhas e pardais urbanos

para depois ouvir seus gritos:

moleque danado desgraçado vou contar tudo

para sua mãe e seu pai, e o velho querido pai ficava

a consternar uma explicação melhor diante desta sina.

.

Essa Maria José dos Santos

sempre cuidou de mim como seu filho

que tomou uns goles da coisa maldita ardida

neste incerto mundo que deu-me de presente,

creches orfanatos e saúde paupérrima vigente

mas que maravilhosamente a vida ficou generosa comigo

desde então aqui estou a ficar velho escarafunchado

torto e encabulado com tudo que já ficou perdido no tempo

e que por desgosto dos homens de sentido oco passou:

Hospitais públicos pneumonias internamentos

Esôfago nevrálgico, com febres suores e tosses noturnas

medo de morrer em noites assombradas e escuras

seus olhos de mãos dadas sempre a cobrir de fé o meu pranto

e selar por minha vida de cigano desvairadamente :

tenho certeza você viverá meu menino preto branco.

Essa Maria José dos Santos

sempre mulher menina ajuizada a tomar conta de mim;

Sonda no estômago , chorado engasgamento petrificado

muita fome e vontade de comer, mas o prazer deveria ser

pois quem passa por esta dor cedo , sabe o que é viver no sofrer.

Mas tudo tinha um porque de minha vida assim existir

desde então soube que amar o próximo é conter diálogos

interfúgios da mente humana que não o prelúdio

ou as quatro estações do ano desesperadamente acontecida.

Essa Maria José dos Santos

cuidou de mim e de meus irmãos e toda família

como amiga e companheira da mamãe em vida.

Ainda me faz sorrir relembrar com o grito da alegria

o som de seu rádio escutando o futebol do radialista

quando o Corinthians ganhava as partidas era felicidade

mas quando ele perdia ela desligava o papagaio maldito

e como sempre dizia, nunca mais vai torcer , parar de sofrer

time de vagabundos que mercenários jogadores não valiam

nem representavam a torcida e toda grande nação embebecida

entregou-me o despertar aguerrido de meus sonhos

taciturnos fogaréus de muitos pensamentos que se perderam

na vertigem ensolarada do dia carta de alforria alfazema

liberdade libertinagem diante de toda esta besta vidazinha.

Poema do livro: EXTRAGEMA

Autor: Valter Rogério Nogueira de Almeida

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