O VOO - POESIA MENOTTI DEL PICCHIA
- Valter Rogério
- 30 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
Estava morando em São Paulo dezembro de 1980 na pensão do seu Orlando bairro da Liberdade. Fazia o cursinho no Anglo da Tamandaré, aproximadamente dezoito anos de idade. Fui tomado de súbita suspenção de uma noite perturbada e inquieta onde muitas pessoas habitavam meu sonho. Olhei sobre o criado mudo e estava uma poesia de Menotti Del Picchia chamada Voo. Era sábado e corri ao quarto de um dos colegas e pedi um violão emprestado e a melodia foi conspirando e a harmonia com os acordes do violão foram sendo inscritos sobre este texto. Acabei procurando o poeta Menotti para conversar com ele sobre este assunto mas foi ao telefone e fiquei muito nervoso e tímido de tentar explicar e resolver esta situação. Depois de muito tempo em 1986 acabei gravando esta canção no Bar Alquimia com o músico e Professor Edgar Mitiu. Estava trabalhando de mensageiro no Hotel Árua e Milton Bituca Nascimento foi fazer um show em Presidente Prudente. Bati na porta do quarto onde ele estava hospedado e dei a fita cassete para ele ouvir aquela canção. Até hoje não sei bem se ouviu e nem como tudo aconteceu. Eu fiquei emocionadíssimo de estar na frente dele entregando uma música e acho que ele deve ter tomado um susto de mata leão comigo em seu ninho.
O VOO
Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento
desabam no abismo que sabes tu do fim ? Se temes que o teu mistério seja uma noite, enche-a de estrelas. Conserva a ilusão de que o teu vôo te leva sempre para o mais alto. No deslumbramento da ascensão, se pressentires que amanhã estarás mudo, esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta. Canta, canta para conservar uma ilusão de festa e vitória. Talvez as canções adormeçam as feras que esperam devorar o pássaro. Desde que nasceste, não és mais que um vôo no tempo. Rumo aos céus ? O que importa a rota ? Voa e canta, enquanto resistirem as tuas asas.

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